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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Editorial Tribos Urbanas

Editorial apresentado na disciplina "Produção de Moda". Feito em somente um dia. Tive a oportunidade de fazer tudo: maquiagem, cabelos, figurino, cenário, fotografar, etc.
Agradecimento à modelo Dani Alacrino, que já desfilou pra mim no TEXES. E por coincidência, o mesmo vestido que ela usou no TEXES, foi um dos que vestiu no editorial Tribos Urbanas na última segunda, dia 27 de junho de 2011. É o vestido que compôs o look inspirado no movimento hippie, e faz parte da marca Victorinna. Outro vestido que faz parte da Victorinna é o de estampa de onça do look inspirado no yuppie (anos 80). Já o vestido que aparece no look punk é também criação minha, mas não da Victorinna. Foi feito a partir de camisetas velhas para ser apresentado na disciplina "Laboratório de Criação".


INTRODUÇÃO
Este catálogo tem por inspiração os principais movimentos culturais que marcaram a história recente da humanidade, desde a década de 1960 até os anos 2000. Foram selecionados cinco movimentos: hippie, punk, yuppie, grunge e hip-hop. A partir de um breve estudo das características culturais desses movimentos, incluindo música, moda e comportamento, foi possível criar looks atuais com inspiração em cada um desses momentos da história.
Os looks não pretendem ser literais, nem caricatos. A idéia é formar looks possíveis de se usar com naturalidade nos dias atuais, porém inspirados nos cinco movimentos estudados.
Este trabalho é também uma maneira de mostrar como a moda mainstream se apropria de movimentos de “anti-moda” criados pela população, de forma espontânea, ao contrário das tendências ditadas pelas passarelas.
Segundo Baudot, no livro “Moda do Século”:
A antimoda, nos dias de hoje, ainda propõe sua alternativa libertária com força suficiente para não permitir que algum criador contemporâneo deixe de lado os fenômenos espontâneos nascidos na rua. Cada um a sua maneira, todos os integram em seus trabalhos.
HIPPIE
A explosão demográfica e o milagre econômico colocaram os jovens em evidência na sociedade ocidental após os anos 50. Os adolescentes haviam sido descobertos como consumidores e questionavam os valores dos pais. Rebelaram-se contra a autoridade dos pais, da Igreja e do Estado, desmascarando a hipocrisia que reinava na sociedade. Conflitos de gerações existiram em diversas épocas. A novidade dos anos 60 era que os jovens haviam desenvolvido uma contracultura que tinha um enorme poder de propagação. Durante algum tempo parecia que o modelo de um mundo melhor se poderia impor com mais honestidade e humanidade.
Os jovens questionavam as regras rígidas e a mesquinhez da sociedade burguesa. Rejeitavam o conceito tradicional de família e casamento, a fidelidade e a distribuição convencional de papéis ao homem e à mulher. Para eles, o mal residia na coação. E se deixassem de acatar regras? E se escolhessem seus parceiros tão espontaneamente como a roupa, na qual também já não queriam ver um símbolo de status? A juventude experimentava de tudo, vivia em virtude do prazer e celebrava a si mesma numa liberdade paradisíaca.
A música era o elemento que unia os jovens do mundo ocidental para além de todas as fronteiras sociais, raciais e de sexo. Os precursores foram Bill Haley e Elvis Presley. Nesta época, salientaram-se os Beatles, e depois os Rolling Stones, The Who, The Kinks, Jimi Hendrix e Eric Burdon. Foi a década do sexo, drogas e rock´n´roll. Os Beatles não se contentavam com a satisfação pessoal apenas. Queriam uma iluminação interior. Em 1967 nomearam Maharashi Mahesh seu guru, tornaram-se precursores de um movimento que procurava um sentido de vida no Oriente. Os elegantes mods, que apresentavam penteados em forma de cogumelos e que seguiam novas regras de moda, foram rapidamente considerados hippies, pelo menos nos meios de comunicação que consideravam indistintamente todos os cabeludos. Os jovens distinguiam entre os que eram hip (ou hot, in ou cool) e os verdadeiros hippies_ que eram dissidentes e que não se interessavam por mais nada além de marijuana e LSD. No entanto, a preferência dos hippies por materiais naturais conquistou outros setores da sociedade. A flor com que Mary Quant enfeitou sua moda lolita tornou-se o símbolo da paz. Muitos se sentiram atraídos pelo movimento do flower power promovido pelos hippies.
Redescobrem-se as roupas outroras reservadas às classes operárias e camponesas. Os blue-jeans americanos propõem uma convivência amigável com o dólmã de Mão. Vivido como símbolo do individualismo pequeno-burguês, o vestuário tradicional tenta adaptar-se. Os bairros chiques exibem casacos afeganes, fulares indianos, cabelos cacheados, túnicas floridas, um mundo de quinquilharias, na promessa de felicidade de um paraíso artificial. O gosto por viagens, pelo étnico, por todas as culturas consideradas exóticas ou primitivas está em ascensão.
Baseando-se nessa vertente da moda hippie, foi criado o look a seguir, de clara inspiração étnica, e com prevalência de materiais naturais, como o algodão e a madeira. O jeans, forte elemento do vestuário hippie, está presente no calçado.
VESTIDO: VICTORINNA. LENÇO, TAMANCOS, BRINCO DE PENA DE PAVÃO E BOLSA: ACERVO PESSOAL.

PUNK
Nos anos 70, a juventude em ascensão sofria com o desemprego, a inflação e a monotonia. Ser jovem não era mais uma benção nem significava mais ser idealista e otimista. O movimento punk emerge do proletariado, empulsionado por correntes musicais carregadas de furor, que transmitem um ódio mais visceral do que político: T-shirts esfarrapadas, cabelos cortados à iroquesa, figurinos de auto-flagelação. Os punks substituíram o “paz e amor” da geração anterior pelo “sexo e violência”. Os materiais naturais foram trocados por tudo que fosse de uma artificialidade gritante.
A geração punk espalha-se por todo o mundo, para manifestar-lhe seu nojo generalizado. A moda punk começa absorvendo peças do rock dos anos 50, mas logo em seguida flerta com o fetichismo: látex preto, pontas de aço e todos os sinais exteriores de uma crueldade reivindicada desencadeiam o furor de uma juventude sádica dada ao culto de alfinetes de fralda.
O punk aparentemente se desenvolveu como uma reação contra a banalização e comercialização maciça da música e da moda jovem, produzidas em fórmulas e pacotes por estrelas cada vez mais inacessíveis ao público. O punk criou o lema “faça você mesmo”, produzindo sua própria música e roupa e sem grande separação entre as bandas e o público nos shows. As canções eram compostas por, em geral, apenas três acordes, propositalmente simples, curtas, agressivas, preferencialmente sem solos nem nenhuma sofisticação, e incentivavam os jovens a formarem suas próprias bandas na garagem de casa. Algumas das bandas que integravam a cena punk-rock nos EUA: Ramones, New York Dolls, Stooges, The Dictators, MC5. Na Inglaterra: The Clash, Sex Pistols, The Damned, U.K. Subs, Eddie & The Hot Rots, Wire e The Stranglers.
O punk criticava os rígidos padrões estéticos da época. Portanto, homens passaram a usar maquiagem, mulheres usavam cabelos espetados (homens também), as roupas eram agressivas ao toque e ao olhar. Práticas e organismos convencionais das grandes lojas, ou moda e indumentária, já encomendadas, foram abandonadas em favor do “faça você mesmo”. Fazendas e objetos até então considerados sem valor, passam a ser usados como adorno. Coisas baratas como alfinetes eram espetados no rosto, nas orelhas e nos lábios. Correntes de descarga de sanitário passaram a adornar o peito. Tampões e lâminas de gilete pendiam de orelhas. Materiais baratos (pvc, plástico, etc), em desenhos vulgares ou imitações de peles de animais, e cores berrantes (indesejáveis na época, principalmente na Inglaterra), passaram a fazer parte da indumentária punk. O cabelo de homens e mulheres era cortado numa grande variedade de estilos bizarros, com cores fora-do-padrão. As roupas eram desfiadas e a maquiagem era escandalosa.
Baseando-se no conceito do “do it yourself” do punk, foi criado o look a seguir, que foi feito com o aproveitamento de camisetas velhas e desbotadas, manchadas com água sanitária para criar uma estampa. Foram aplicadas correntes nos ombros, numa alusão às vestes militares, que também eram usadas com irreverência pelos punks. No cabelo foi criado um penteado que imita o moicano (o mais famoso penteado punk).

 VESTIDO: BIA ALCURE. BRACELETE, SAPATOS, MEIA-CALÇA: ACERVO PESSOAL.

YUPPIE
A sigla vem do termo young urban professionals, que eram profissionais jovens, consumistas, ricos e “dressed for success” (vestidos para o sucesso).  Os anos 80 rejeitavam a cultura hippie. Estava na moda ganhar dinheiro, usar roupas caras e não ter interesse pela política. O punk havia sido incorporado pelo mainstream e não despertava mais o mesmo interesse.
Havia uma masculinidade nos looks, mesmo os das mulheres. As roupas transmitiam a sensação de poder, de riqueza material, com o uso de tecidos de bom caimento, ombros largos, cintura marcada, e de preferência de grifes caras. O lema da década era “work hard, play hard”. Ou seja: as pessoas trabalhavam muitas horas por dia para poder se dar ao luxo de gastar nas noitadas regadas a coquetéis e cocaína.
Ao mesmo tempo a febre do fitness aumentou, e as formas masculinas eram esculpidas com o body building, tanto por homens quanto por mulheres. Os homens ficam mais vaidosos. A moda, mais unissex. Na onda da aeróbica, torna-se popular a lycra. Em 1989 surge o vestido bandage, de Herve Leger, que evidencia as formas tão arduamente esculpidas e transmite o poder e a sensualidade da década.
O look a seguir foi composto usando-se uma saia bandage e uma camisa social azul, cor da confiança, para mostrar que a pessoa que a veste é uma “hard worker”. E também foi usado o paletó risca-de-giz, egresso do universo masculino. Nos pés, scarpins, para transmitir a elegância que a uma típica executiva dos anos 80 gostaria de ostentar. No outro look, vestido com estampa de onça, que transmite poder e sensualidade, com casaco rosado por cima.


VESTIDO: VICTORINNA. CAMISA, SAIA, SAPATOS, PALETÓS, LENÇO, BRINCOS E RELÓGIO: ACERVO PESSOAL.



GRUNGE
A cena musical que se formou no final dos anos 1980 e o início dos 1990 se transformou num estilo de vida e em moda.  A tribo surgiu de um gênero alternativo surgido nos porões de Seattle: amigos tocavam para amigos e iam aos shows dos amigos….assim nasceram bandas como MudHoney e Green River (que viraria o Pearl Jam), chegando até o disco de ouro do Nirvana.
Os grunges queriam passar longe das estruturas e isso também serviu para o seu guarda-roupa. Mesmo influenciados pelo heavy metal e pelo punk rock, eles tinham um desapego e uma falta aparente de pretensão visual que resultou em roupas de 2ª mão, velhos parkas, tênis e coturnos surrados, camisas de flanela, camisetas puídas de bandas, jeans rasgados e óculos de tartaruga. Os jovens eram tão “uncools” que foram além do estatuto “cool”. Abraçaram o rótulo nerd e criaram um estilo irreverente e influente de vestir.
Diferente da cena punk, o grunge não surgiu como movimento contestatório e rebelde, ainda que tenha emergido do underground. Originalmente, os grunges, que nem sabiam que pertenciam a um movimento ou estilo, estavam mais para niilistas, alienados e introspectivos-auto-destrutivos. O grunge não possuía os inspiradores detalhes oriundos do punk, como a maquiagem carregada, couros e vinis, alfinetes e cabelos super produzidos. Ao contrário, a inspiração para a moda grunge era a classe proletária de Seattle, com roupas muito largas e miseráveis, muitas vezes doadas, e camisa xadrez como a dos lenhadores. O visual era junkie, porque tanto o público, assim como as bandas, eram junkies, e as mangas compridas escondiam as picadas. Em pouco tempo o estilo se popularizou pelo mundo, e blusões rasgados e puídos poderiam ser comprados em qualquer boutique por uns 200 dólares. Os meninos deixaram os cabelos crescer como os hippies e usavam calças extra-grandes, gorros e flanela xadrez (há quem diga que esse visual era como de alguém recém saído da cama). A moda, ao incorporar o estilo nas passarelas, também carrega elementos hippies: as cinturas das calças baixam e as bocas-de-sino voltam à cena, o cabelo das meninas era comprido e repartidos no meio. O grunge foi um estilo colorido, amarfanhado e roto, no qual roupas de fabricação doméstica, personalizadas ou de segunda mão eram usadas em camadas, complementadas por pesadas botas militares. Nesse contexto, destacaram-se, entre muitos outros, nomes como Anna Sui, Calvin Klein e Marc jacobs, que em 92 foi o primeiro a levar esse visual às passarelas. Na Inglaterra, o lar do “negligent-chic”, essa moda foi fortemente incorporada, adicionando as obrigatórias botas Doctor Marteen ao look. Enquanto isso, o irreverente estilista John Galliano saía à noite pelos subúrbios ingleses para buscar inspiração nos trajes dos habitantes da rua e de albergues.  

O grunge acaba se tornando um estilo revolucionário tanto na música, por ser um som desleixado e nunca antes visto, quanto na moda, pois contrastava com exagero e luxo dos anos 80, onde se sobressai a glamourosa moda italiana. Esta agora cede lugar às referências aos mendigos, roqueiros e drogados, se concentrado, principalmente, em estilistas ingleses e americanos. Nos anos 90, então, há na moda uma reversão completa de condições e significados. O grunge revoluciona a moda, se apropriando de elementos que sempre foram considerados impróprios a ela, retirando qualquer brilho e afetação da década, o que não deixou de ser uma reação ao consumo ostensivo que caracterizou os anos 80.  
Assim, muitos estilistas foram buscar inspiração em comunidades, cujos trajes e adornos não eram moldados por tendência. No entanto, fizeram dessas formas decadentes de viciados em droga uma forte tendência. É nessa época que se retoma o ideal de beleza magérrima, cujo ícone era Kate Moss. Ela torna-se para os anos 90 o que Twiggy foi para a década de 60. A voga por modelos deste tipo e com um certo ar junkie foi alvo de muitas críticas ao ser ligada a distúrbios alimentares. O uso de modelos em fotografias feitas de maneira que sugerisse que essa extrema magreza se devia ao uso de drogas também foi condenado.
O look a seguir tenta mostrar a melancolia do grunge dos anos 90, tanto na expressão da modelo quanto no cenário de demolição e anti-glamour. A roupa tem aparência de gasta e usa-se a sobreposição, havendo neste caso, duas padronagens xadrez na mesma composição, coisa que jamais seria permitida nos anos 80.
VESTIDO, CAMISA, BOLSA, MEIA-CALÇA E SAPATOS: ACERVO PESSOAL.

 
HIP HOP
A moda do hip hop é um estilo de se vestir de origem afro-americana, caribenha e latina, que teve origem no bairro The 5 Boroughs, em Nova Iorque, e mais tarde influenciou em cenas do hip hop em Los Angeles, Galesburg, Brooklyn, Chicago, Filadélfia, Detroit, Porto Rico, entre outros. Cada cidade contribuiu com vários elementos para o seu estilo geral visto hoje no mundo inteiro. Tênis Adidas, Puma, Nike, agasalhos esportivos, jaquetas, camisetas com desenhos de Graffiti, fat laces (cadarços largos) coloridos e boinas Kangol são apenas algumas dos inúmeros acessórios utilizados pela cultura Hip-Hop desde os anos 70, tendo influências Funk, Punk e Latina entre outras. Jovens pobres e esquecidos pelo governo, começaram a formar seu estilo próprio através de roupas baratas e que supriam suas necessidades. É interessante lembrar que marcas como Adidas, até então, usadas somentes para prática esportiva, começaram a ser usadas pelos integrantes da cultura Hip-Hop. Eram usados agasalhos esportivos e tênis, por serem roupas confortáveis para dançar, e ter um preço mais acessível na época. Logo após a Puma ter patrocinado a película Beat Street em 1984, seus agasalhos ficaram em evidência. Os primeiros “Fat Laces” (cadarços largos) eram feitos de elásticos de cueca. Os grafiteiros usavam também agasalhos e jaquetas grafitadas de tecidos mais grossas, para se protegerem do frio, por saírem a noite para pintarem seus Graffitis. Os Mc’s também usavam marcas como Adidas e Puma e jaquetas de couros. Já os Dj's usavam as mesmas roupas, diferenciando-se apenas nos acessórios. Os próximos looks mostram a moda “street” do hip-hop e o sex-appeal da moda “glam” das mulheres dos clips de Hip-Hop.
 CAMISETA, CALÇA, TÊNIS, CHAPÉU, ACESSÓRIOS: ACERVO PESSOAL.


 

BODY, CHAPÉU, SHORT, ACESSÓRIOS: ACERVO PESSOAL.



CONCLUSÃO:
Este trabalho fez um brevíssimo apanhado da moda (ou anti-moda) contestadora e irreverente que emergiu das ruas, das classes menos favorecidas ou da juventude rebelde em geral.
Essa pesquisa não pretende ser definitiva nem aprofundada, até porque, para tal objetivo seria necessário mais tempo, e o objetivo principal era apenas conseguir a inspiração para os looks.

CRÉDITOS:
MODELO: DANIELA ALACRINO
PRODUÇÃO, MAQUIAGEM, CABELO, FIGURINO, CENÁRIO E FOTOGRAFIA: BIANCA L. ALCURE

BIBLIOGRAFIA:
Barnard, Malcolm. Moda e Comunicação. 2003.
Baudot, François. Moda do Século. 2002.
Seeling, Charlotte. Moda: o século dos estilistas. 2000.

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